Entro portas adentro, o silêncio impera. A balbúrdia do Cairo ficou lá fora e desaparece, reina a paz.
Descalço-me, entrego o calçado a um homem que guarda os pertences de quem entra e outro vem ter comigo como se estivesse à minha espera. Pergunta-me se me pode acompanhar na visita à mesquita. Resisto por uns segundos mas logo aceito. Dirigimo-nos ao sahn, o páteo central da mesquita.
São três da tarde de um dia de agosto, o sol está alto e o calor queima a pele. Chego próximo do mármore branco do chão, estou descalço, estranhamente não hesito, na verdade nem sequer penso muito e o chão não queima os pés, nem sinto muito calor. No centro do páteo o fontanário onde os fieis se purificam antes da oração. O anfitrião explica que a água não é potável, serve apenas para lavagem.
Páteo central
Atrás de nós, acima do telhado, as duas imponentes torres, outrora minaretes onde se queimava incensos para perfumar a cidade e chamar os fieis à mesquita, uma tradição fatímida. O senhor faz questão de dizer que hoje já não são minaretes, o minarete está do outro lado.
Torre do incenso
Chegados ao outro lado do páteo, aos claustros, tinha acabado a oração, e o muezim, o homem que recita o chamamento (adham) para a oração, estava no mirhab virado de costas para nós, para o qual o meu guia aponta e diz-me para tirar fotografias, pois poucas oportunidades (autorizadas) destas acontecem. O mirhab é um nicho, virado na direcção de Meca, existente nas mesquitas para o qual os muçulmanos devem virar-se durante as orações.
Mirab
Tiro algumas fotografias e prosseguimos pelo claustro, e sala de oração, em direcção ao púlpito. O chão é verde, uma cor sagrada para os muçulmanos, diz no Alcorão que o céu (paraíso) é verde. Chegados ali o homem explica que, tal como nas igrejas cristãs, também nas mesquitas existe um local alto onde o Imã faz o sermão da sexta-feira. Explico-lhe que, hoje em dia, nas igrejas já não é utilizado. Faz questão de dizer que muçulmanos, cristão e judeus são todos iguais, têm todos a mesma origem mas infelizmente o islão é sempre considerado terrorista. Digo-lhe que não, e como que surpreso agradece.
Sala de orações
Os tetos e paredes são decorados com típica arte islâmica e já pouco resta da mesquita original começada a construir no ano de 990, durante o califado fatímida. Ao fundo do corredor, uma parede em pedra mostra, numa delas, uma inscrição árabe, dos poucos vestígios da mesquita original que chegou aos nossos dias.
Já no fim da visita, perguntei quanto era. O homem, com toda a calma e voz suave que o acompanhara em todo o percurso diz-me: muito obrigado, fiz questão de o acompanhar na visita porque quero mostrar o que a nossa religião e cultura são, não precisa dar nada…
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Visitar Cairo ou outro lugar, o importante é ir, porque "viajar é ir"...